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terça-feira, 19 de outubro de 2010

01
AGO
2009

Série: "Trabalho de Ética e Jornalismo" (5)

Responsabilidade Jornalística

Há certos furos que é melhor publicar só quando todo mundo tiver” (Carlos Laino Jr.)
Uma das questões éticas de grande importância nos dias de hoje e que envolvem a prática jornalística é a questão da responsabilidade do profissional na divulgação dos fatos e publicação das notícias. Teria mesmo, o jornalista, o direito de dizer o que quiser e quando quiser? Não é bem assim. O jornalista deve estar consciente de que ele é responsável por aquilo que propôs publicar e tem o dever de responder por suas ações diante da sociedade.
Deve-se correr o risco de escolher entre a responsabilidade ou a vendagem do jornal diante de um furo ‘inconfirmado’? O melhor, nesse caso, é esquecer o furo, checar as informações e optar pela ética. Mesmo que o jornalista seja o último a noticiar o fato, mas, escolhendo por agir responsavelmente, além de ganhar a credibilidade, evita-se um processo judicial, por exemplo, por divulgar informações duvidosas, sem base suficiente e nem comprovação legal de sua veracidade.
A questão da responsabilidade jornalística é tão séria que o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem um capítulo específico para o assunto: o capítulo III – “Da responsabilidade profissional do jornalista”.
O artigo 8º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiro diz que “o jornalista é responsável por toda a informação que divulga desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a responsabilidade pela alteração será de seu autor”. Mais à frente, no capitulo 10, ele fala que “a opinião manifestada em meios de informação deve ser exercida com responsabilidade”. Ainda nesse capítulo, o inciso II do artigo 12º diz que o jornalista deve buscar provas que fundamentem as informações de interesse público, ou seja, é dever do jornalista buscar a veracidade dos fatos antes de divulgá-lo, mas será se na prática tem sido, mesmo, assim? Os jornalistas respeitam o código de ética que os regem? Nem sempre.
Um dos exemplos de irresponsabilidade jornalística dos últimos anos foi o caso da Escola Base. O caso, ocorrido em 1994, teve grande repercussão nacional. Em síntese o caso ocorreu da seguinte forma: duas mães registraram queixa contra os diretores da Escola de Educação Infantil Base, denunciando a ocorrência de abuso sexual a seus filhos, um menino e uma menina, de quatro anos de idade. Mesmo ainda sem provas contra os acusados de exploração sexual (os donos da Escola e alguns funcionários), no primeiro dia de ‘investigação’, haviam declarações do delegado Edélcio Lemos, responsável pelo inquérito sobre os supostos abusos sexuais e a imprensa da época, sem nenhum critério e de forma irresponsável, divulgou o ‘fato’, que ganhou grande repercussão em questão horas. A população queria ‘fazer justiça’ e, como retaliação, depredaram e saquearam a escola e a casa dos donos também. Nos meios de comunicação o fato ganhava a cada dia mais elementos, suposto envolvimento com drogas, suspeitas de doenças sexualmente transmissíveis e daí por diante. As matérias eram as mais sensacionalistas possíveis. Os títulos das reportagens, mais criativos e chamativos do que qualquer anúncio publicitário: “Uma Escola de horrores”, “Kombi era motel na escolinha do sexo”, dentre muitos outros, sempre fazendo questão de chamar a atenção ao máximo e, assim como a função comercial dos rótulos, os títulos embrulhavam o caso da Escola Base num sensacionalismo tentador, irresistível a qualquer consumidor compulsivo e ‘desinformado’. Depois que os proprietários da escola foram inocentados por falta de provas, a imprensa não se retratou formalmente pelos erros cometidos e, mesmo que o fizessem, nada garantiria que as mesmas pessoas que viram as primeiras matérias acusando, veriam as últimas, inocentando. E mesmo assim, não se retrata um erro com a mesma intensidade que o expõe. A retratação não ganharia a primeira página dos jornais, certamente.
Ora, se o jornalismo lida com reputações e honras pessoais, valores e conceitos, com o imaginário popular, com versões da história e com o próprio senso de verdade e realidade, o que se podia esperar, no mínimo, é que os donos da Escola Base fossem, de fato, linchados, pois a sociedade não aceita que “manchem sua honra”, ela não tolera esses tipos de abusos. O problema é que nem sempre o que aparece na televisão é verdade. Nem mesmo no jornalismo, que teoricamente, busca a verdade acima de qualquer coisa.
Em muitas das vezes, o jornalismo contribui de forma decisiva para a construção (ou destruição) de uma imagem. E na sociedade do espetáculo, importa mais o “parecer ser” do que o “ser” em si. Se a mídia diz que é, então é, pois a mesma é, sem dúvida nenhuma, o espaço de consolidação das imagens, o espaço onde ‘as aparências não enganam’, pois, se ela (imagem) está ali, é porque ela realmente o é.
Se o jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter, devemos exercê-lo como tal.
Para evitar erros irreparáveis, como no caso da Escola Base, há inúmeros manuais de jornalismo, grandes teóricos e pesquisadores em comunicação, códigos de ética e uma rede de suportes que ajudam e incentivam o profissional da área na forma como estes devem tratar as fontes, apurar as notícias e chegar à ‘objetividade’, à verdade. Alguns desses suportes ensinam sobre o que se deve evitar na prática do jornalismo como, por exemplo, distorcer informações, invadir privacidade, abusar do poder (somos o quarto, não é mesmo?). Além disso, nos ensinam que o trabalho do jornalista deve estar pautado, sobretudo, no desejo de descobrir a verdade e para tal, deve-se demonstrar todo rigor necessário para alcançá-la.
Enfim, o jornalista deve, na hora de decidir entre responsabilidade ou vendagem, ficar com a primeira opção. A segunda pode até dá-lo status, conforto e uma boa cama para dormir, mas escolher a primeira, certamente, o proporcionarão ótimas noites de sono.

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