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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os erros de português nos jornais(1)

Os erros de português nos jornais(1)

                                     
por Ana Maria Bacocina*

Este trabalho de monografia objetiva captar os principais erros de português existentes nos jornais, - em especial, nos jornais "Gazeta de Limeira" e "Jornal de Limeira" - além de identificar as razões que levam os jornalistas a cometer esses erros e, dessa forma, analisar quais os meios possíveis de controlá-los e combatê-los.
A idéia de abordar esse tema veio da paixão pela língua portuguesa que trago comigo desde a infância e do sentimento de indignação que toma conta de mim todas as vezes que, ao ler os jornais, encontro neles vários erros de ortografia, concordância, pontuação, colocação pronominal, significação, entre outros.
O assunto em questão é muito importante, pois afeta a credibilidade de jornalistas e jornais e é responsável, até mesmo, pela demissão de profissionais da imprensa.
Pela escassez de materiais encontrados que tratam dos erros de português na mídia impressa, percebe-se a despreocupação de grande parte dos estudantes de jornalismo, no que diz respeito à prevenção e ao combate de erros desse tipo.
Isto é preocupante, já que, como é ensinado nos cursos de graduação em jornalismo, a linguagem é o instrumento de trabalho do jornalista. E, sendo o português o idioma usado no Brasil, se o profissional de comunicação não souber utilizá-lo corretamente, dominando sua norma culta, não conseguirá exercer sua profissão de maneira plenamente satisfatória.
O objetivo essencial desta dissertação é mostrar a grande diferença que um português correto e claro pode fazer nas notícias de um jornal e, dessa forma, fazer com que os jornalistas e estudantes da área valorizem mais a língua portuguesa no momento da elaboração das matérias jornalísticas, buscando um aperfeiçoamento maior no tema, a cada dia.


Erros de português prejudicam a todos os envolvidos no processo jornalístico         

Os erros de português são, muitas vezes, relegados a segundo plano, pois a preocupação maior dos jornalistas se dá com relação à seleção das fontes, falta de ética e erros de informação, o que é uma falha. A preocupação deveria ser a mesma com todos os tipos de erros, já que trabalhar com a transmissão de informações é, ao mesmo tempo, utilizar, constantemente, a gramática da língua portuguesa.
Erros gramaticais como o de concordância nominal ou de regência verbal podem ser fatais a uma notícia, fazendo com que o leitor não compreenda a mensagem que o jornalista quer transmitir.
A falta de vírgula ou o excesso da mesma também é capaz de alterar totalmente o sentido de uma frase. Um exemplo de confusão de sentido devido à falta de vírgula na frase é: "Farei o depósito do dinheiro na conta de meu filho não na conta de meu primo jamais depositarei a importância na conta de minha mulher nada acrescentarei ao saldo de meu pai."(2) O leitor não consegue identificar em qual conta será depositado o dinheiro, o que demonstra que a mensagem não está sendo transmitida com clareza.
O que também confunde muito a população são erros de pontuação e grafia incorreta de palavras, afinal, a simples falta de um acento pode alterar completamente a função sintática de uma palavra, como é o caso da palavra por, que grafada sem acento assume a forma de preposição e, com a adição de um acento circunflexo sobre a letra o, transforma-se no verbo pôr.
Como explicado e exemplificado anteriormente, erros de português não devem ser vistos como insignificantes e sem importância, por isso há necessidade de combatê-los. Um texto jornalístico bem elaborado, com palavras de fácil entendimento, frases curtas e grafia correta garantem uma credibilidade muito maior a um jornal.
Segundo Luiz Garcia , os erros de português são os que mais afetam a credibilidade de um jornal. "Ao ver um erro de português, o leitor se pergunta se o assunto tratado está correto ou não" (3) (Garcia, 2001). 

A função exercida por programas de Controle de Erros        

Poucos são os veículos de comunicação que desenvolvem programas de controle de erros, visando melhorar a qualidade e atender às expectativas do leitor. A Folha de S. Paulo possui, desde 1996, um programa de qualidade que busca a diminuição dos erros ortográficos e de informação. Este programa trimestral se dá através de uma análise do número de erros cometidos por centimetragem do jornal.
A partir deste controle, o trabalho dos jornalistas começou a ser analisado e avaliado continuamente e as punições aos profissionais do jornal passaram a ser aplicados de acordo com a gravidade dos erros cometidos pelos mesmos. No primeiro deslize do jornalista a advertência é feita verbalmente pelo editor; havendo a repetição do mesmo erro ou quando o erro for mais grave o editor emite advertência escrita. Somente em casos de urgência, como gravidade de erros, ocorre a demissão.
O coordenador do Programa de Qualidade da Folha de S. Paulo, Rogério Ortega, diz que "Convém ressaltar que, dependendo da gravidade, erros de informação podem, sim, resultar em advertência ou demissão de jornalistas. Mas isso não acontece com os erros de forma (português + padronização). Ninguém é demitido da Folha apenas com base nos números do Programa de Qualidade."(4) (Rogério Ortega, 2003)
Segundo Rogério Ortega, o Programa de Qualidade da Folha trouxe vantagens, pois possibilitou o contínuo acompanhamento das falhas e implicou redução na média de erros de português do jornal.
Desde 2001, o Programa de Qualidade da Folha de São Paulo é composto apenas por um coordenador (Rogério Ortega); uma professora de português, consultora diária da Redação (Thaís Nicoleti de Camargo) e um jornalista, que capta os erros de texto na edição (Leandro Gomes).
Por meio de uma parceria com o departamento de Controle de Erros, há uma distribuição de dicas de português pela Redação, através de e-mail, e é feita a divulgação das mesmas dicas pela Folha On Line :http://www.uol.com.br/folha/circulo/dicas_do_pq.shtml. A crítica diária da edição é afixada no mural da Redação, para que todos os funcionários possam ler.
Algumas Metas de Erros (de forma: português + padronização) são impostas e devem ser cumpridas durante o ano, além da divulgação regular dos índices de erro/módulo mensais e anuais da Folha (Por módulo, subentende-se uma coluna completa de texto, ou 51,5 cm). O Prêmio Qualidade, dividido em 13 categorias, recompensa, mensalmente, os profissionais que menos erros cometeram.
Além da premiação, a Folha também cumprimenta os profissionais que se destacam, através de comunicados feitos pelos editores. Estes cumprimentos contam pontos na avaliação do jornalista.
A Folha não possui revisores para os textos de jornalistas, pois acredita ser importante que o próprio jornalista corrija a linguagem de seus textos e fique atento a seus erros, evitando que se repitam.
Muitos dos desvios da norma culta do português são detectados por meio de e-mails enviados pelos leitores ou por aviso de pessoas entrevistadas pela Folha. Esses erros são publicados na seção "Erramos" da edição seguinte do jornal ou na mesma seção onde o erro foi cometido, juntamente com suas devidas correções e acompanhados de um pedido de desculpas aos leitores.
Os principais erros de português da Folha de S. Paulo se dão por meio das traduções incorretas dos textos da linguagem oral para a escrita.
Cursos de português são, freqüentemente, ministrados aos profissionais da Folha pela professora e consultora Thaís Nicoleti. Também são adquiridas obras de referência e dicionários de regência para a Redação, visando auxiliar os jornalistas na construção das notícias diárias do jornal.
Na Folha, na década de 80, havia o olheiro, que verificava todo o jornal, antes de ser impresso, corrigindo os erros de digitação. Em 1996, com a criação do Programa de Qualidade da Informação, a função de olheiro foi extinta.
O profissional nomeado olheiro pela Folha também é lembrado por Clóvis Rossi, em seu livro "O que é jornalismo", onde atribui a ele o nome de copidesque.
No jornal O Povo há outro método para verificar os erros cometidos pelos jornalistas. O controller, citado por Lira Neto (jornalista e escritor; foi editor-assistente e depois ombudsman da redação do jornal cearense O Povo), exercia, no periódico, praticamente a mesma função do olheiro e do copidesque, mencionados anteriomente.
Ainda hoje há, em alguns jornais, a figura deste profissional, que nada mais é do que o revisor, que confere todo o texto do jornal antes da impressão, corrigindo os erros gramaticais, o que não deveria ser necessário se os jornalistas tivessem um cuidado maior com a escrita e não permitissem que a pressão das redações e a pressa no fechamento das matérias os influenciassem, de forma negativa, na hora de redigir os textos e conferir se há neles algum erro gramatical.

Ora, ou o repórter sabe escrever corretamente, de acordo com as normas estabelecidas pela empresa na qual trabalha, ou deveria ser substituído por outro que preenchesse esse requisito. Admitir a existência de repórteres que necessitem de um "revisor de luxo" de seus textos é absurdo - mas acontece em quase todos os grandes jornais brasileiros. (Rossi, 2000, p.30)

A Gramática nos Manuais de Redação        

O Manual de Redação, do jornal Folha de S. Paulo, editado em 2001, além de diversas informações sobre padrões éticos e seleção de fontes, entre outros pontos importantes aos jornalistas, traz tópicos sobre o uso da crase, concordância verbal, uniformização de grafias das palavras e indicação de quais delas não devem ser usadas, além de várias informações sobre regras gramaticais e sobre como escrever, esquivando-se de erros de português.
O Manual também é muito útil para mostrar aos profissionais da Folha quais verbos devem ser usados e quais devem ser evitados. Com as abreviaturas ocorre o mesmo procedimento.
O Manual de Redação da Folha possui um índice muito claro e completo, onde todos os vocábulos são organizados com o número da página onde se encontram, à frente dos mesmos, o que permite, a qualquer pessoa, encontrar, de forma fácil e rápida, verbetes, normas gramaticais e também termos estruturais e padrões de estilo do jornal.
O Manual já era organizado dessa forma na edição de 1987, que possui o mapa da cidade de São Paulo, com marcações e números indicando a localização de cada bairro. Há também, nesta mesma edição, a diferença de fuso-horário entre o Brasil e outros países; além de escalas comparativas de temperaturas; as principais medidas, entre outras orientações úteis.
Segundo Patrícia Paixão - jornalista e mestranda em Comunicação Social pela UMESP - Universidade Metodista de São Paulo - os Manuais de Redação, entre eles, o da Folha de S. Paulo, atuam mais como punidores do profissional do que como fiscalizadores do comportamento da empresa.
O Manual de Redação e Estilo, do jornal O Estado de S. Paulo, editado em 1997, é mais voltado à questão da gramática e traz instruções úteis de como evitar erros de português. Com relação à língua portuguesa, são abordadas áreas diversas, que vão desde regras de concordância e de acentuação até regência e conjugação verbal.
Além disso, existe um capítulo dedicado inteiramente à crase, que se trata de um grande problema para muitas pessoas e um outro capítulo apresentando a grafia correta de milhares de palavras e expressões.
Os cem erros mais comuns, tanto gramaticais quanto ortográficos, também foram listados no Manual do Estado, juntamente com as devidas correções e explicações a respeito.
O segundo capítulo do Manual se dá por ordem alfabética, o que facilita a busca pelos termos que o leitor deseje consultar. O único problema desse capítulo é a mistura de conceitos técnicos do jornalismo com as normas de uso das palavras e com exemplos de ortografia correta, entre outros.
Talvez a idéia do editor do Manual, Eduardo Martins, com a organização do capítulo por ordem alfabética, tenha sido a de criar um tipo de dicionário específico aos jornalistas e estudantes da área, com o objetivo de facilitar as consultas a qualquer tipo de verbete procurado, em momentos de pressa e dúvida. O resultado não foi inteiramente satisfatório, pois a forma como os itens foram organizados acabou, de certa forma, dificultando a procura.

Teoria Organizacional      

Os procedimentos citados anteriormente, como o Programa de Controle de Erros da Folha de S. Paulo e os Manuais de Redação adotados pelos principais jornais, fazem parte de um sistema de organização da empresa jornalística, onde os profissionais, com o passar do tempo, aprendem qual a linha editorial adotada e tentam, de todas as fomas, não burlar as normas do jornal. Isso acontece porque estabelecem um vínculo de confiança com a empresa em que trabalham e passam a ter um sentimento de gratidão, respeito e admiração pelos jornalistas mais experientes, que trabalham na Redação há mais tempo.
Também as punições e recompensas, que foram exemplificadas com relação à Folha, são métodos organizacionais adotados pelas empresas jornalísticas para garantir a ordem e o seguimento das normas estabelecidas pela editoria.
Traquiina, em seu livro "Teorias do Jornalismo", comenta as idéias de Warren Breed, de que a socialização do jornalista na política editorial da organização se dá através de uma sucessão sutil de recompensa e punição.

(...) a chefia tem o poder de decidir quem irá fazer a cobertura de que acontecimentos e nem todos os acontecimentos são encarados da mesma forma, havendo tarefas que a maioria dos jornalistas considera mais interessante e outras menos agradáveis. (...) 1) as alterações das peças, por exemplo a reescrita do texto ou a introdução de cortes no trabalho elaborado pelo jornalista; 2) a colocação da peça no produto jornalístico, havendo um consenso jornalistico que é melhor ter uma peça na primeira página do que nas páginas interiores; 3) a assinatura ou não assinatura da peça, havendo aqui também consenso entre os membros da tribo jornalística que a publicação do nome do jornalista é sempre desejável. (Traquina, 2004, p.153-154)

O jornalista sabe que buscando seguir sempre o que é desejável pela diretoria e editoria do jornal, terá mais chance de alcançar posições superiores na empresa em que trabalham, por isso procuram sempre melhorar, inclusive no que diz respeito à escrita correta da língua portuguesa.
De certa forma, essa política organizacional de punições e recompensas é uma forma de pressionar o profissional para que ele continue agindo da maneira esperada por seus superiores.

Os jornais da cidade de Limeira e seus erros de português      

O jornal Gazeta de Limeira possui o "Guia de Relacionamento Interno e Recomendações de Estilo", que, além de não ser distribuído entre os funcionários, - há poucos exemplares do mesmo, que são encontrados somente com o dono do jornal e editores - também não é um manual onde existem recomendações a respeito da língua portuguesa. A ênfase maior do "Guia de Relacionamento" é com relação à organização do jornal e a alguns tipos de jornalismo, como o jornalismo investigativo e o tendencioso.
A Gazeta adotou também, no início de 2005, o "Guia de Relacionamento Interno e Recomendações de Trabalho", criado com a intenção de explicar, aos funcionários, um pouco sobre os departamentos existentes no jornal e a circulação, tiragem, distribuição e assinantes do periódico. Este guia é entregue a todos os empregados da Gazeta de Limeira, mas também não possui regras gramaticais e orientações sobre a escrita correta do português. O Jornal de Limeira não possui um Manual de Redação e seus funcionários, quando necessário, se guiam pelas normas de língua portuguesa do Manual de Redação da Folha de S. Paulo.
Apesar da não adoção de regras gramaticais em seus guias, a Gazeta de Limeira se mostra, de certa forma, preocupada com os erros gramaticais cometidos por jornalistas na elaboração das notícias, a prova disso é que possui dois revisores que, após a conclusão do trabalho do redator, lêem todos os textos jornalísticos, corrigindo os erros de português que encontram nestes textos.
O Jornal de Limeira não tem esse mesmo cuidado com suas matérias, apenas afixando, em um mural existente na Redação, uma lista com os erros cometidos na edição anterior do jornal e o nome dos jornalistas que os cometeram. Esta medida só funciona como forma de punição ao jornalista que redigiu a falha, mas não é o melhor método de controle de erros, já que, dessa forma, os jornais são entregues à população contendo uma grande quantidade de erros de ortografia, pontuação, concordância, regência, entre outros.
Supõe-se que muitos dos erros passam despercebidos até mesmo após a distribuição do jornal nas casas dos leitores, pois dificilmente é encontrada a seção "Erramos" nas edições de ambos os jornais.
O problema maior é que, até mesmo os revisores da Gazeta não possuem um bom nível educacional na área de língua portuguesa, o que foi comprovado através de uma pesquisa realizada por mim, com o objetivo de apontar a média diária de erros gramaticais que os jornais de Limeira trazem, além de identificá-los e indicar quais os tipos de erros de português cometidos mais freqüentemente. Trechos de algumas notícias serão transcritos, para exemplificar alguns dos piores erros praticados por jornalistas, sendo que o nome destes não será mencionado, evitando, assim, maiores constrangimentos.
Para a execução dessa pesquisa, foram analisadas dez edições seguidas da Gazeta de Limeira e também dez edições seguidas do Jornal de Limeira e captados todos os erros gramaticais existentes durante cada dia, calculando, dessa forma, a média geral do número de erros diários de cada jornal e verificando os erros cometidos com mais freqüência.
A média de erros de português do jornal Gazeta de Limeira é de 180 erros por edição, sendo que os que mais aparecem são os de falta de vírgula ou de excesso da mesma, logo após vêm os erros de concordância verbal e nominal, seguidos pelo mau uso da crase e erros de acentuação.
O Jornal de Limeira possui uma média de 263 erros por edição e os mais encontrados são, também, os de falta de vírgula ou excesso da mesma, vindo, a seguir, os erros de concordância nominal e de coerência. Por último, aparecem os erros de pontuação e de regência. Há também alguns erros de digitação, causados pela correria dos jornalistas na hora de redigir a notícia.
Os erros de português identificados são apenas dos textos jornalísticos redigidos por profissionais do próprio Jornal de Limeira, já que muitas das notícias são retiradas de outros jornais, como Agência Estado - Rio de Janeiro e São Paulo e Das Agências - São Paulo.
Tanto na Gazeta como no Jornal de Limeira, a página onde há maior número de erros gramaticais é a de esportes, demonstrando a falta de conhecimentos lingüísticos dos jornalistas especializados na área esportiva. 


Erros em massa      

Logo abaixo, serão citados alguns erros cometidos por profissionais dos jornais Gazeta de Limeira e Jornal de Limeira, juntamente com suas devidas correções.
"Só como exemplo, para voltar ao trabalho, os funcionários do INSS, embora não conquistassem o reajuste reivindicado, não terão os dias descontados e ninguém foi ou será demitido" (Jornal Gazeta de Limeira, 22 de agosto, p.2). O que se encontra é uma completa discordância verbal: "conquistassem", "terão" e "foi".
"Enquanto isso, muitas pessoas doentes, viúvas e inválidos, que precisavam dar entrada com pedidos de auxílio, foram prejudicadas" (Jornal Gazeta de Limeira, 22 de agosto, p.2). O correto seria "muitas pessoas doentes, viúvas e inválidas".
"O time venceu o Boca Júniors de virada por 3 a 2, no Centro de Futebol Limeira, Luizinho marcou os 2 gols do Boca, sendo um de falta, mas Val Rocha 2 e Thiago deram a Vitória ao Mixto, que pulou para os 15 pontos ganhos, mas ainda na quinta colocação" (Jornal Gazeta de Limeira, 22 de agosto, p.7). Além da confusão existente no final da frase, há falta de vírgula entre as palavras "virada" e "por".
"Eles almejavam se apossar de malote pertencente ao supermercado que a vítima mantinha com o cunhado" (Jornal Gazeta de Limeira, 23 de agosto, 1a página). Há falta de uma vírgula entre as palavras "que" e "mantinha", causando dificuldade no entendimento da frase.
"Pouca gente tem conhecimento onde levar a bateria do telefone celular que não tem mais uso" (Jornal Gazeta de Limeira, 23 de agosto, p.2). Deveria ser colocada a preposição "de" antes da palavra "onde". A ordem da frase também poderia confundir o leitor, levando-o à idéia de que o telefone celular não tem mais uso, não a bateria.
"A vacina não possui nenhum efeito colateral e qualquer crianças pode ser imunizada, mesmo que esteja com gripe, febre ou qualquer outro problema de saúde" (Jornal Gazeta de Limeira, 23 de agosto, p.5). Esse é um típico exemplo de pressa e falta de atenção, pois o substantivo "crianças", que está no plural, não concorda com o restante da frase, que se encontra no singular.
"O vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PFL) que acompanhou Lembo na visita a Aljóiasclassificou a situação política atual muito triste, quando milhões de brasileiros estão decepcionados. Para ele, o caso é grave se ele soubesse ou não dos fatos" (Jornal Gazeta de Limeira, 24 de agosto, p.8). Aqui há um completo festival de erros, por essa razão, estes foram sublinhados e serão, agora, explicados. No primeiro caso, há falta de vírgula, no segundo, falta crase. Pela complexidade do terceiro caso, este será reescrito de forma mais clara: considera muito triste a situação política atual, com a qual milhões de brasileiros estão decepcionados. No último caso, além da mistura de tempos verbais em "o caso é grave" e "se ele soubesse", também houve a falta do substantivo "presidente", que substituindo o pronome "ele", daria sentido à frase.
"Homossexual é variação de comportamento" (Jornal de Limeira, 21 de agosto, 1a página). O jornalista se expressou mal, o correto seria "Homossexualidade é variação de comportamento".
"Homossexualismo é um assunto que está em moda na mídia, principalmente na novela "América", exibida pela Rede Globo" (Jornal de Limeira, 21 de agosto, 1a página). A palavra certa a ser usada não seria "principalmente", mas sim "inclusive".
"Entre os pré-conceitos estão os de que trata-se de uma doença ou opção" (Jornal de Limeira, 21 de agosto, 1a página). Ao invés de "trata-se", o jornalista deveria ter escrito "se trata". A frase não está inteligível, pois as expressões não foram utilizadas corretamente.
"Para clientes ligados em alta tensão, como as indústrias, o aumento será de 6,24%" (Jornal de Limeira, 23 de agosto, 1a página). Clientes ligados em alta tensão? Isso não seria possível.
"Quanto ao mal atendimento prestados pelos médicos, informada pela própria munícipe, solicitamos para entrar em contato pelo nº 156 e detalhar nomes e condutas, para apurarmos o caso" (Jornal de Limeira, 23 de agosto, p.2). A palavra "mal" está escrita de maneira incorreta, pois a mesma só deve ser grafada com "l" quando esta retratar o contrário de bem, portanto, a grafia correta para a frase acima é "mau" com "u", que retrata o contrário de bom. A palavra "prestados" se encontra no plural, enquanto o restante da frase está no singular, assim sendo, há um erro de concordância nominal. No último caso, a correção foi feita reescrevendo a parte grifada: "conforme informou a própria munícipe, solicitamos que entrem em contato pelo nº 156, detalhando nomes e condutas, para que apuremos o caso".
"As peças adultas, encenadas no teatro, seguirão até o próximo sábado, sempre às 20h. e com ingresso a R$ 2" (Jornal de Limeira, 23 de agosto, p.4). O correto seria "As peças produzidas para adultos".
"Ele deve assinar esta semana, um ato administrativo suspendendo preventivamente o jogador Rafael, o técnico Daniel e o massagista Edmílson até que sejam julgados" (Jornal de Limeira, 23 de agosto, p.18). Há falta de vírgula entre o verbo "assinar" e o pronome demonstrativo "esta", antes e depois do advérbio de modo "preventivamente" e entre o substantivo "Edmílson" e a preposição "até".


Por que o jornalista erra?      

A pressa é um dos principais fatores que levam os jornalistas a errar, pois as matérias têm um tempo curto para serem escritas, impressas e entregues ao público e é essa correria nas redações que faz com que, muitas vezes, não haja tempo para que o jornalista pesquise como devem ser escritas determinadas palavras e expressões e quando devem ser usadas a vírgula e a crase. O editor ou revisor, quando modifica parte de um texto jornalístico, levado pela pressa, algumas vezes, esquece de fazer as alterações necessárias de concordância verbal e nominal no restante do texto, o que faz com que as notícias assumam um ar confuso.

Muitos dos erros e empastelamentos de textos de jornais decorrem da pressa com que os textos são escritos e "revistos".
O repórter ou editor conserta ou corta algo no começo da frase e esquece de fazer a adequação do resto ao conjunto,
por isso, às vezes o sujeito saltita para um lado e o verbo esvoaça alegremente para outro. (Machado, 2001)

O problema é que, com os avanços da tecnologia, a sede por informações está cada vez maior e, com isso, os jornalistas precisam ir atrás da notícia, apurá-la e transmitir aos leitores de maneira muito rápida, o que dificulta o ato de reler tudo o que é digitado e corrigir os erros existentes.

Antigamente, a maioria dos repórteres não tinha que preparar três, quatro ou mais
matérias de uma vez, num só dia. Os jornais contratavam mais gente para distribuir
tarefas. Um corpo de revisores relia os originais. Enfim, não havia tanta pressa,
a concorrência não era tão feroz. E, não era tão antigamente assim. Agora o jovem
repórter inexperiente (a quem pagam menos) escreve o texto, em geral o editor não o lê,
ou não o lê direito, e acabou. O material é impresso e ponto final. 
(5) (Machado, 2001)

Não há como não cometer erros diante da pressão constante que é imposta aos profissionais de jornalismo, atualmente, quando o "furo" se torna, muitas vezes, mais importante do que a própria qualidade da notícia. Sendo assim, o jornalista acaba deixando de lado a preocupação em checar a veracidade das informações fornecidas e também de modificar as falas dos entrevistados, transcrevendo-as para o jornal sem que haja a correção dos erros de concordância.

A pressa é culpada, nas redações, pelo aniquilamento de muitas verdades, pela quantidade vergonhosa de pequenos
e grandes erros que borram as páginas dos jornais e pela superficialidade de textos que desestimulam a reflexão.
Apurar bem exige tempo. E não existe mais razão de jornal ser feito às pressas. (Noblat, 2003, p.38)

O que também leva os jornalistas ao erro de português é a deficiência em sua formação, desde os cursos primário e secundário. A faculdade de jornalismo não conseguirá, em quatro anos de curso, oferecer ao aluno a carga de informações necessárias, tanto lingüísticas quanto humanísticas, que estes não conseguiram aprender nos onze anos de ensino básico. "Há muitos alunos das faculdades de jornalismo que não conseguem escrever corretamente uma única frase, por mais curta que seja. E, obviamente, não será a escola de jornalismo que irá corrigir esse defeito estrutural" (Rossi, 2000, p.67).
O ensino, de modo geral, no Brasil, é muito deficitário e há uma falta de incentivo à leitura, por parte dos professores e pais, pois somente através da leitura pode se aprender a escrever bem. É aí que entra, também, a responsabilidade do profissional de comunicação de redigir seus textos jornalísticos de maneira correta, pois, de certa forma, muitas crianças aprendem a ler e a escrever por meio dos jornais e revistas que os pais assinam. Muitos professores também adotam esse método de alfabetização através da imprensa. É a função do jornalista como professor.
Rogério Ortega, coordenador do Programa de Qualidade da Folha de S. Paulo, atribui os erros gramaticais cometidos por profissionais da imprensa à má formação lingüística e, em alguns casos, cultural. Segundo ele, esse fator também depende da organização das editorias e das condições de trabalho que elas oferecem aos jornalistas.
A escrita incorreta dos profissionais da imprensa reflete o mau nível educacional em que se encontra o Brasil. "A imprensa brasileira retrata mais ou menos a sociedade pobre e mal alfabetizada a que se dirige. A moçada da imprensa escreve mal, na maioria, porque estudou mal, leu e lê mal. Como a maioria da população do País" (Machado, 2001).
Os jornalistas e donos de veículos de comunicação têm uma responsabilidade muito grande, que é a de transmitir as informações de forma clara, precisa, exata e correta. Mas, atualmente, a correção está sendo deixada de lado, sua importância é menosprezada por muitos profissionais da imprensa, como se escrever de acordo com a norma culta da língua portuguesa fosse apenas um detalhe sem muito valor.
Um jornalista que não possui o domínio da língua oficial não deve enveredar na imprensa escrita, onde sempre é exigido um bom texto, coerente e corretamente grafado, - pelo menos é o que deveria ser exigido por editores de todos os jornais e revistas - sem antes se submeter a um bom curso intensivo de redação jornalística e gramática. "A redação não é o lugar adequado para aprender a escrever. Primeiro porque nela tudo é feito às pressas e ninguém tem muito tempo para ensinar o que quer que seja a outros. Segundo porque há gente na redação que também não sabe escrever" (Noblat, 2003, p.77).
Ainda pior do que errar é não admitir o erro e é isso que a maioria dos jornais ignora, pois o espaço reservado à admissão de erros nos veículos impressos de comunicação é mínimo - nos poucos em que há espaço para isso. Ninguém gosta de confessar que erra, mas é um procedimento necessário para que seja mantida a credibilidade de um jornal. 

Assim como não se deve brigar com a notícia, muito menos se deve brigar com o erro.
Erro existe para ser confessado. Os leitores sabem que os jornais erram.
E na maioria das vezes, estão dispostos a perdoar os erros - desde que admitidos.
E desde que também não errem tanto quanto costumam errar. (Noblat, 2003, p.40)

Todos os anos, milhares de jovens que concluem o curso de graduação em jornalismo, saem em busca de empregos na área, mas há um número muito grande de profissionais para poucas vagas e o mercado de trabalho não dá oportunidade aos inexperientes. As seleções exigem mais dos candidatos a cada dia e é por isso que os jornalistas devem buscar um aperfeiçoamento contínuo. O bom conhecimento do português é um diferencial muito importante, por isso não deve ser esquecido. Um erro de coerência ou concordância numa seleção pode levar o candidato à perda de vaga para um outro mais bem preparado.

Excesso de mão-de-obra e falta de preparo. A culpa é de governos ruins, oportunistas e subservientes ao verdadeiro Poder?
Da escola sucateada? De professores perdidos e mal pagos? Da falta de bom ensino? De estrutura melhor?
De mais oportunidades na infância e na adolescência? Da pobreza? Da desnutrição resultante que afeta a capacidade de apreensão?
Tudo isso e um pouco mais. Coisas do Brasil. Não desanimemos. (Machado, 2001))

Conclusão      

Como foi observado, há um grande número de erros gramaticais nos jornais de Limeira. Esse número revela que a preocupação maior dos jornalistas se dá com relação à quantidade de notícias e com seu conteúdo factual, o que faz com que os erros de forma sejam relegados a segundo plano.
A pressão imposta aos profissionais da imprensa, devido à escassez do tempo e ao grande fluxo de informações, não dá espaço ao aperfeiçoamanto e à atualização desses profissionais, o que é essencial, numa profissão onde é necessário que se esteja muito bem informado a respeito de diversos assuntos.
Muitos jornalistas possuem dificuldade na prática da escrita, mas não conseguem encontrar tempo disponível para cursos de aprofundamento na área lingüística, tentando preencher essa falha com o auxílio de dicionários e manuais que possam indicar, rapidamente, a melhor forma de redigir um texto jornalístico.
Esses métodos de consulta podem ser eficazes para a pressa do momento, mas não instruem o jornalista a longo prazo, pois sob pressão este não consegue assimilar as informações adquiridas através da leitura.
O ideal seria que os veículos de comunicação oferecessem cursos de aperfeiçoamento gramatical a seus funcionários, compensando, dessa forma, as punições aplicadas aos mesmos quando falham. 


Referências Bibliográficas          

CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmática do jornalismo: buscas práticas para uma teoria da ação jornalística. São Paulo: Summus Editorial, 1994.
DOSSIÊ CREDIBILIDADE - O Globo: Jornal é 2a instituição de maior credibilidade, copyright O Globo, 14. ago.2001. In: Observatório da Imprensa de 22.ago.2001.
EDUCAÇÃO, Informática, Comunicação e Artes na Era Digital. Disponível em: http://www.puc-rio.br/jornaldapuc/agoset96/mesa.html. Acesso em: 26/10/2005..
FOLHA DE SÃO PAULO - Manuais de Redação. 1987 a 2001

FOLHA ONLINE - Disponível em: http://www.uol.com.br/folha/circuito/antologia_ erramos.html
GAZETA DE LIMEIRA - Edições de 22 a 31 de agosto de 2005
GAZETA DE LIMEIRA - Guia de Relacionamento Interno e Recomendações de Estilo (Edição própria)
GAZETA DE LIMEIRA - Guia de Relacionamento Interno e Recomendações de Trabalho (Edição própria)
JORNAL DE LIMEIRA - Edições de 20, 21 23, 24, 25, 26, 27, 28, 30 e 31 de agosto de 2005.
MARTINS, Eduardo - Manual de Redação e Estilo de O Estado de São Paulo. São Paulo: Ed. Moderna, 1997,
L. BARBOSA MELLO, Hélio Eymard - Entre socos e afagos: as relações conflituosas entre a mídia e a língua portuguesa. Belo Horizonte. Gutenberg, 2004.
MENDEZ, Rosemary Bars - A Qualidade Sob Controle: estudo de Caso da Folha de São Paulo, 2003.
NETO, Lira - OMBUDSMAN. In Observatório da Imprensa. Edição de 05.abr.1998.
NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. 3a ed. São Paulo: Ed. Contexto, 2003.
PAIXÃO, Patrícia - A (in) dependência da Folha de São Paulo no debate sobre a responsabilidade social no jornalismo. Disponível em:http://www.comtexto.com.br/2convicomartigoPatriciaPaixao.htm . Acesso em: 26/10/2005.
PARENTE, Juliana - Entrevista: Moçada da imprensa escreve mal. Disponível em: http://www.facasper.com.br/jo/entrevistas.php?tb_jo=&id_noticias=98. Acesso em: 16/08/2001.
ROSSI, Clóvis - O que é jornalismo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2000.
TRAQUINA, Nelson - Teorias do jornalismo - porque as notícias são como são. Florianópolis: Ed. Insular, 2004.



(1) Trabalho resultado da disciplina Teoria do Jornalismo, ministrada pela professora Rosemary Bars Mendez
(2) Texto extraído da apostila de Língua Portuguesa do curso de Comunicação Social com Habilitação em jornalismo, 2005 - Karin Terrell Ferreira
(3) Editor de Opinião do jornal O Globo, em debate sobre "A credibilidade da imprensa", realizado pelo jornal O Globo, edição de 14/08/2001.
(4) Entrevista concedida a Rosemary Bars Mendez em seu artigo "A Qualidade Sob Controle", de 2003
(5) Em entrevista "Moçada da imprensa escreve mal", concedida a Juliana Parente.


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 Aluna de Jornalismo do ISCA Faculdades

1 comentário:

  1. jornal a gazeta de Vitoria-ES, na edição de 28 de maio de 2011, errou na ortografia no conteudo sobre o hospital...

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